domingo, 27 de março de 2011

EU SEI, MAS NÃO DEVIA....

Como bem informada por Mira Baeta, este texto, atribuído à Clarice Lispector é na verdade de Marina Colasanti...

Segue o texto:

Eu sei que nos acostumamos. Mas não devíamos.
Acostumamo-nos a morar em apartamentos de fundos, e a não ter outra vista
que não as janelas em redor.
E porque não temos vista, logo nos acostumamos a não olhar lá para fora.
E porque não olhamos lá para fora, logo nos acostumamos a não abrir de todo
as cortinas.
E porque não abrimos as cortinas logo nos acostumamos a acender cedo a luz.
E à medida que nos acostumamos, esquecemos o sol, esquecemos o ar,
esquecemos a amplidão....
Acostumamo-nos a acordar de manhã sobressaltados porque está na hora.
A tomar o café a correr porque estamos atrasados.
A ler o jornal no autocarro porque não podemos perder o tempo da viagem.
A comer uma sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque
já é noite.
A dormitar no autocarro porque estamos cansados. A deitar cedo e dormir
pesado sem termos vivido o dia.....
Acostumamo-nos a esperar o dia inteiro e ouvir ao telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem recebermos um sorriso de volta.
A sermos ignorados quando precisávamos tanto ser vistos.
Acostumamo-nos a pagar por tudo o que desejamos e o que necessitamos.
E a lutar, para ganhar o dinheiro com que pagar esses desejos e essas
necessidades.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagaremos mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que
pagar....
Acostumamo-nos à poluição.
Às salas fechadas, de ar condicionado e cheiro a cigarro. À luz artificial.
Ao choque que os olhos sofrem com luz natural.
Às bactérias na água potável.
Acostumamo-nos a coisas demais, para não sofrermos....
Em doses pequenas, tentando não perceber, vamos afastando uma dor aqui, um
ressentimento ali, uma revolta acolá....
Se a praia está contaminada, molhamos só os pés e suamos no resto do corpo.
Se o cinema está cheio, sentamo-nos na primeira fila e torcemos um pouco o
pescoço.
Se o trabalho está difícil, consolamo-nos a pensar no fim-de-semana.
E se no fim-de-semana não há muito o que fazer, deitamo-nos cedo e ainda
ficamos satisfeitos porque temos sempre o sono atrasado.
Acostumamo-nos para não nos ralarmos com a aspereza, para preservar a pele.
Acostumamo-nos para evitar feridas.
Acostumamo-nos para poupar a vida. Vida que aos poucos se gasta, e que gasta
de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Cara escritora, admiro muito sua coragem e sinceridade em expressar esses sentimentos e de superar seus preconceitos. Descobrir que as experiências nos ajudam a aprender e com isso evoluir como pessoa e ser humano... é o caminho comprovadamente. Parabéns pela "superação" e que suas descobertas continuem te fazendo cada dia mais feliz. Até a próxima []s

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  3. Olá... me desculpe, a intenção não é criticar, apenas informar, ok?
    Eu também amo a Clarice, mas o texto acima não é dela e sim da Marina Colasanti.
    Muitos textos tem sido espalhados na net ultimamente com nomes de outras pessoas, que não seus verdadeiros autores (Jabor, Veríssimo, Drummond, Rubem Alves, etc).
    Acho importante darmos o crédito a quem de direito.
    Espero que vc não se chateie.
    Um abraço.
    Mira Baeta

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    1. Olá!!!! Muito obrigada pela informação!!! Claro que não me chateio, fui mais uma enganada pela internet, rsrsrsr farei a modificação Mira e darei os créditos a você!

      Abraços!!!

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