quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O outro lado da estrada....

Quando pensei no título "o outro lado da estrada" para o Blog, pretendi não só homenagear o filme  "A estrada" do Fellini como também criar um paralelo com ele... afinal de contas havia muita coisa por trás deste filme e da personalidade da palhaça Gelsomina que se aplicavam à minha vida, ao momento em que estava vivendo, principalmente no que dizia respeito à atitude dela, sempre marcada pela ingenuidade, pelo fatalismo, que a impediam de se libertar daquilo que lhe fazia mal....

Qual a razão dela existir? Por que ela tinha que passar por aquilo? Pra ela não tinha outro jeito, pois tentara fugir e apanhara, logo, não tinha como mudar o seu destino, não restando alternativa senão aceitá-lo.... Ela não sabia fazer nada, era desvalorizada até que surge o Bobo, um palhaço que a admira, a aconselha, a trata como ser humano e a convida para ir embora com ele..... o que ela faz? Não aceita, pois acredita que Zattano, um porco sem coração, não sobreviveria sem ela, afinal, ele não pensa.... (postei esta parte no filme na postagem sobre Gelsomina)




O fim do filme é trágico e indica que ele não necessitava dela tanto assim, pois ao mostrar sua fraqueza ele a abandona.... Gelsomina morre e quando Zattano descobre vai à praia e chora.... velha história, alguns só descobrem que amam e dão valor depois de perder.....

O meu questionamento é sobre o porque que deve ser assim???? Por que aceitar  o fatalismo? Por que acrecitar que não se pode mudar o destino e se condicionar a ser vítima, sofredor, se contentar com migalhas e nao explorar o melhor de si.....??? Por que não mudar? Se já está sofrendo, por que não assumir riscos e tentar mudar de vida, de postura, de atitude e por que não de cidade, de país se isso for necessário?

Por que nos condicionamos a sofrer e continuar sofrendo sem buscar o sentido das coisas, a essencia, o que realmente importa? A maioria sofre sem saber porque sofre.....

Deixe de lado o sofrimento e pense por um instante: O que realmente lhe faz feliz? O que é importante pra você?
A vida é sua e você é o protagonista da sua própria história... pra que deixar as pessoas fazerem de você o que bem entendem e pra que deixá-las conduzir a sua história, o seu enredo? Para que ter uma visão distorcida de você baseada na visão externa? Por que o medo de se enxergar e descobrir o melhor de você e que você é o único que pode dar sentido à sua vida? Por que se contentar com as migalhas sendo que você pode oferecer a si mesma o banquete inteiro????

Sabe... o outro lado da estrada é ver o outro lado das situações.... e o Inutilia Truncat significa cortar o inútil.... acho que são ótimas combinações... que tal começar a praticar o viver?


Time - Pink Floyd


Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an off hand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way


Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain
You are young and life is long and there is time to kill today
And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun


And you run and you run to catch up with the sun, but it's sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death


Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desperation is the English way
The time is gone the song is over, thought I'd something more to say


Home, home again
I like to be here when I can
When I come home cold and tired
It's good to warm my bones beside the fire
Far away across the field
The tolling of the iron bell
Calls the faithful to their knees
To hear the softly spoken magic spells




sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Poema do Álvaro de Campos

Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insónia, substância natural de todas as minhas noites, Relembro, velando em modorra incómoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.


Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido —
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso — e foi afinal o melhor de mim — é que nem os Deuses fazem viver...



Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro —
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.


Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Claras, inevitáveis, naturais,
A conversa fechada concludentemente,
A matéria toda resolvida...
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.


O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Em sistema metafísico nenhum.
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei.
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos.
Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível p’ra mim.