sexta-feira, 5 de junho de 2015

Palavras jogadas ao vento

Aqui estamos novamente...
Você um delírio perdido no espaço-temporal....
Eu terra, rocha, sofrendo os efeitos da erosão....
Sentada na janela, faço bolinhas de sabão
E as vejo dissipando pelo espaço, tal qual a nossa relação....
Falar em desgaste?
Talvez fosse cedo demais....
Pedir certezas? No começo eram tantas....
Mas com o tempo elas se perderam,
Não chegaram aos seus destinos,
O eu e você
Não foram fortes o suficiente para formarem o  “nós”....
Talvez justamente pelos nós que se deram ao longo do caminho...
Um emaranhado de ideias não concretizadas,
Promessas não cumpridas,
 fatos e hiatos....
A gente se perdeu....
Ou talvez já estivéssemos perdidos, por que não?
Eu terra, eu rocha, sofri os efeitos da erosão...
Erosão da identidade, corroída com cada olhar de desprezo,
Com cada atitude egoica e e despretensiosa,
Com cada plano em que não fui inserida,
Com cada ligação sonhada e não realizada,
Com cada mensagem não enviada e não recebida....
Eu forte, hoje não tão forte assim...
Sofrendo por aquilo que chamam de amor,

A maior riqueza e a maior dificuldade da vida....  

Carol Masotti

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Texto sobre alguma coisa entre o viver e o existir

Ela nasceu no dia 15 de abril de 1922 e faleceu no dia 22 de março de 1982....
Em sua lápide constou “excelente mãe e esposa, descanse em paz”
Foram 59 anos de dedicação externa..... dedicou-se a brincar de bonecas para aprender a ser uma excelente mãe.... brincava de casinha para aprender os ofícios domésticos... ajudava em casa, aprendeu a cozinhar primorosamente para ser uma boa esposa... costurava, aprendeu caligrafia como ninguém, aprendeu a ser uma dama, a não falar, não reclamar, não se expressar... casou e aprendeu a sofrer calada, a cada surra tomada, a cada sangue derramado, ela sorria, sofria e aguentava.... a cada filho nascido, fruto de estupro dentro do casamento, dividia o amor por aquele ser e o ódio que crescia dentro dela..... ela aguentou calada todas as humilhações, todas as traições, todos os batons vermelhos e perfumes baratos nas camisas de seu "amado e devoto esposo".... foi uma vida de abdicações, do amor, dos estudos, dos sonhos, da vida, dela mesma.... foram 59 anos de resignação... até que um dia ela sucumbiu..... e nunca fora vista mais feliz e mais em paz do que quando em seu caixão.....
Dia 15 de abril de 1922 ela nasceu para o mundo porém, no dia que nasceu morreu para si... foram 59 anos de uma vida não vivida, espectro do outro.

No dia 22 de março de 1982 ela morreu para o mundo para finalmente nascer para si, completa e íntegra, como jamais fora na vida.....

Carol Masotti